Uma bomba de fabrico artesanal explodiu, na madrugada de ontem, junto à porta de um apartamento relacionado com a prática de prostituição, causando danos avultados em portas, janelas e na clarabóia do prédio, situado numa travessa da Rua dos Construtores Civis, em Tomar. Em causa poderá estar um ajuste de contas ou uma retaliação por um ‘serviço’ mal prestado.
A explosão – a segunda num ano visando casas conotadas com a prostituição em Tomar – está a ser investigada pela Secção de Combate ao Banditismo da PJ de Coimbra, que ontem de manhã esteve no local a recolher indícios e já tem um suspeito, indicado por moradores.
O apartamento que fica mais próximo do sítio onde foi posto o engenho explosivo está referenciado pelas autoridades policiais como “um local usado para a prostituição” e as duas actuais moradoras confirmaram à PSP que estiveram a receber clientes durante a tarde. Um deles não terá ficado satisfeito com o atendimento e prometeu voltar mais tarde para “correr com elas”.
“O homem não terá sido objecto dos favores que pretendia e, como retaliação, terá voltado com um engenho explosivo artesanal feito com uma mecha, ferros e pregos”, explicou um elemento da PSP.
A maioria dos moradores já estavam a dormir quando o rebentamento ocorreu, causando um estrondo enorme e um fumo denso com cheiro a enxofre. Manuel Rodrigues, reformado do Ministério da Justiça e morador no 1.º esquerdo, acordou sobressaltado. “Deixei a minha mulher na sala a ver televisão e fui dormir porque não me sentia bem, mas acabei por acordar com o estrondo, sem saber o que se estava a passar”, contou o reformado, adiantando que acabou por ir dormir para casa de um vizinho, por estar com “muita ansiedade”.
Em casa de Manuel Rodrigues a explosão não causou danos mas o vizinho da frente ficou com a porta danificada. No entanto, os estragos mais avultados atingiram a clarabóia do prédio – que se estilhaçou –, um apartamento e o escritório de uma empresa de construção civil situados na cave.
“A porta ficou desfeita e foi projectada para dentro do escritório, as janelas estão estilhaçadas, e até o espelho do candeeiro saltou”, contou Manuel Basílio, da BCA – Construção Lda, a empresa que fica na cave esquerda. Manuel Basílio não estava no escritório quando ocorreu a explosão e ao chegar ao patamar da cave reparou numa “mancha escura” à entrada do apartamento em frente feita pela bomba.
“Só pode ter sido um ajuste de contas e como não tenho inimigos, julgo eu, não era comigo que se queriam meter”, defendeu Manuel Basílio, adiantando que o apartamento em frente estava ocupado por duas mulheres. “São dois borrachos, acho que era o posto de trabalho delas, pois havia alturas em que era um corrupio de gente para lá”, concluiu.
PORTA IA FERINDO MORADORESO apartamento que terá sido o alvo da explosão foi comprado há ano e meio por Paula Banha e está ocupado há dois meses por Maria José Pereira, de 37 anos, doméstica, que negou ao CM a prática de prostituição naquela casa. “Eu recebo visitas de muitos amigos mas não é para a prostituição. Quem diz essas coisas deve estar a pensar numas brasileiras que trabalhavam aqui, mas isso já foi há três anos”, disse Maria José Pereira. Quando a explosão ocorreu a moradora encontrava-se em casa, acompanhada de uma amiga de Lisboa que está a passar férias com ela. Estavam as duas a ver televisão quando ouviram o estrondo e sentiram um cheiro intenso a enxofre. Por pouco não foram atingidas pela porta, que foi projectada contra a parede e o móvel da entrada.
ASSISTIDAS 15 PESSOASA explosão não causou danos na estrutura do prédio, garantiu o comandante dos Bombeiros Municipais de Tomar, Manuel Mendes, adiantando que “houve algumas fissuras mas não passou disso. As pessoas podem ficar descansadas pois estão em segurança”. Quando soou o alerta, às 00h47, os Bombeiros Municipais de Tomar mobilizaram dez elementos, apoiados por três viaturas. De seguida chegou o piquete da empresa distribuidora de gás natural que abastece o prédio. Foi aventada a hipótese de tratar-se de uma fuga de gás mas os técnicos garantiram de imediato que isso não aconteceu. No entanto, por precaução, cortaram o fornecimento ao prédio. Não se registaram feridos, no entanto os bombeiros tiveram necessidade de assistir 15 pessoas, que estavam “muito assustadas” devido à explosão. “Houve ainda algumas escoriações mas a maioria das pessoas que assistimos precisavam de ajuda para se acalmarem um pouco e se refazerem do susto”, adiantou Manuel Mendes.
PORMENORESOUTRO CASO
Em Fevereiro de 2007, uma bomba artesanal foi deflagrada numa moradia, em Tomar, por vingança ou protesto contra a alegada prática de prostituição.
DANOS EM CARRO
Além dos prejuízos nas portas, janelas e clarabóia do prédio, a explosão causou danos no pára-choques dianteiro de um carro estacionado em frente, que foi atingido por vidros.
EDIFÍCIO TEM 30 ANOS
O prédio em causa, situado numa travessa da Rua dos Construtores Civis, no centro da cidade de Tomar, foi construído há pelo menos 30 anos.
OITO FRACÇÕES
Nos quatro pisos do prédio (cave, rés-do-chão, primeiro e segundo andares) há sete apartamentos e um escritório. A maioria dos moradores são
idosos ou reformados.
Isabel Jordão
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